Aprenda sobre a Bíblia

A Questão, o Sofrimento e a Fé

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Há uma pergunta antiga que põe em dúvida a existência de Deus e que pode ser resumida da seguinte maneira: “Se Deus existe e ele é poderoso e bom, por que o sofrimento acontece?” Essa é uma pergunta que merece uma boa reflexão. Muitos têm tentado respondê-la de forma filosófica, religiosa e até científica. Há respostas simplistas, outras sinceras e algumas retóricas, mas que carecem de aprofundamento intelectual. Há respostas inteligentes, bem elaboradas, filosoficamente bem construídas, mas igualmente desprovidas de um conteúdo mais profundo que olha para a possibilidade de outras alternativas válidas e possíveis.

Eu sei que a existência de Deus coloca, por assim dizer, o problema do sofrimento como uma questão incômoda e perturbadora. Muitos, por causa disso, ou negam que Deus existe, ou afirmam que, se ele existe, ele não intervém. Há outras razões para não se crer em Deus, mas esta, talvez, seja a mais citada pelos céticos e desconfiados. Podemos levantar a questão de forma mais aguda ainda e fazermos outras perguntas extremamente mais desconcertantes. Por exemplo, alguém pode questionar a existência de Deus dizendo assim: “Se ele existe e age, por que ele permite a guerra, a fome, a miséria, as catástrofes, a pandemia e o mal sobre a terra?”

A lista é grande e, como eu disse, extremamente perturbadora. Embora eu ache também que a lista de coisas benfazejas não é pequena e pode provar exatamente o contrário, não quero fazer uso de tal argumento para provar que Deus existe. Mesmo porque eu acredito que Deus não precisa de provas. A reflexão aqui é no sentido de comparar o sofrimento, a fé e a questão. A alternativa para não existência de Deus (a questão) é que o acaso determina o desenrolar dos fatos. O acaso deu origem ao universo, o acaso determina quem sofre e quem é feliz, o acaso torna o rico mais rico e o pobre mais pobre. Ora, se acaso é o que, como diz a música, “vai me proteger”, então o sofrimento não é um problema, é uma questão de sorte ou, no caso, de má sorte.

Mas se é assim, como explicar o fato de que o sofrimento é algo universalmente considerado como sendo um problema? Ele é um problema que precisa ser combatido e não ignorado. E aqui vem a fé no Deus que nos torna mordomos dele na terra que Ele mesmo criou para que cuidássemos dela. Não temos todas as repostas para a crise do mundo e para todas as mazelas que acontecem na história, mas sabemos que grande parte da culpa é nossa. Deus nos deu a terra como um jardim, mas o nosso pecado trouxe maldição sobre ele. O que vemos acontecer não é, nem fruto do acaso e nem culpa de Deus, mas uma demonstração clara do nosso egoísmo, avareza e desamor. O sofrimento não prova que Deus não existe, antes, prova a enfermidade da humanidade.

Talvez seja importante aqui olhar para a cruz de Cristo. Ele deu a sua vida espontaneamente ali. A cruz é o sofrimento de Deus. Se alguém merece ser chamado de injustiçado neste mundo esse, sim, é Jesus. No entanto, Ele se entregou por amor (João 3.16). Em Jesus o sofrimento é tratado como um problema e nele o próprio Deus procura se reconciliar com o homem pecador. E mais ainda, Jesus promete a vida eterna para aqueles que nele creem e garante que no último dia Ele mesmo os ressuscitará dentre os mortos enxugando dos olhos toda lágrima e extirpando da vida todo o sofrimento.

Jesus não é nenhum lunático e nem um fraudulento, mas o próprio Deus que se fez carne, então é preciso crer nele e esperar nele. O sofrimento, a fé e a questão podem até permanecer por algum tempo, mas o justo, diz a Bíblia, viverá por sua fé (Hc 2.4; Rm 1.17).

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

Jesus Cristo é Senhor

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

“Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos” (Rm 14.9).

Ao lembrarmos neste domingo a ressurreição de Jesus o fazemos com grande alegria em nosso coração. Afinal, como diz o Apóstolo Paulo, “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé”. A ressurreição de Jesus é a aprovação do Pai à obra do Filho,éa garantia de que aqueles que estão em Cristo irão um dia ressuscitar e é também a demonstração do poder de Deus sobre o inimigo chamado Morte.

Além disso, a ressurreição de Cristo é uma revelação clara de que Ele é o Senhor sobre todas as coisas: Senhor dos vivos e dos mortos; Senhor do céu e da terra; Senhor sobre os principados e as potestades; Senhor sobre o mundo visível e o invisível; Senhor da história; Senhor sobre o microcosmo e o macrocosmo; Senhor do ontem, do hoje e do amanhã. Em uma dimensão bem pessoal, diríamos que o senhorio de Cristo sobre as nossas vidas significa ser pessoalmente possuído por Ele e pessoalmente comprometido com Ele.

Talvez muitos tratem com desprezo o senhorio de Cristo. Outros o chamem de Senhor da boca para fora ou pode ser que existam pessoas que nem mesmo compreendam o que significa isso. John Stott, em seu livro “Ouça o EspíritoOuça o mundo”,sugere pelo menos cinco dimensões práticas do senhorio de Cristo sobre as nossas vidas. São elas:

  1. A dimensão intelectual (Mt 11.29)

Oseguidor de Jesus precisa tornar-se seu discípulo, sujeitar-se às suas instruções e aprender com Ele. Um discípulo não tem a liberdade de discordar de seu divino mestre. O que nós cremos acerca de Deus e do ser humano, seja homem ou mulher, criado à sua imagem; ou sobre a vida e a morte; os deveres e o destino; a Escritura e a tradição; a salvação e o juízo; e muito mais ainda; tudo isso nós aprendemos com Ele.

  1. A dimensão moral.

Jesus nos conclama à obediência (Jo 14.21). A maneira de provarmos nosso amor por Cristo não é, nem fazendo altos protestos de lealdade, como Pedro, nem entoando cânticos sentimentais na igreja, mas, sim, obedecendo aos seus mandamentos.

  1. Dimensão vocacional.

Isto inclui toda a nossa vida de trabalho. Dizer “Jesus é Senhor” nos compromete a servir a vida inteira. Cada cristão é chamado a dar a sua vida em ministério. Se nós nos dizemos seguidores de Jesus, é inconcebível que gastemos nossa vida de outra forma que não seja servindo.

  1. Dimensão social.

Em certo sentido, confessar “Jesus como Senhor” é reconhecê-lo como Senhor da sociedade, mesmo daquelas sociedades ou segmentos da sociedade que não reconhecem explicitamente seu senhorio.

  1. Dimensão política.

Não podemos esquecer que Jesus foi condenado tanto por uma ofensa política quanto por uma ofensa religiosa. As reivindicações de Jesus tinham implicações políticas inevitáveis. Sua declaração de que nós temos que dar “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, implicava que existem áreas sobre as quais Deus é Senhor e nas quais César não deve se intrometer. A divinização do estado não acabou com o fim do Império Romano. Ainda hoje existem regimes totalitários que exigem de seus cidadãos uma lealdade incondicional, que os cristãos simplesmente não podem prestar (At 5.29).

Pense nisso meu irmão: Jesus morreu e ressuscitou para ser o Senhor de sua vida.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

“Está no jeito da gente olhar”

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

O compositor sertanejo, numa bela canção de nossa terra, reconheceu que o sol é o mesmo todas as manhãs, a diferença “está no jeito da gente olhar”.

Você pode crer, há um jeito da gente olhar para a vida e o segredo consiste em saber olhar. A palavra jeito significa maneira ou modo, mas pode significar também disposição de espírito, ou, índole e caráter. Fazendo uma associação, poderíamos dizer que o nosso jeito (maneira) de olhar a vida revela o nosso jeito (índole)de ser.Gosto, particularmente, de quem tem todo um jeito especial de olhar o mundo a sua volta, quem, como disse o filósofo, não perdeu a capacidade de admirar.

O sol nasce todas as manhãs trazendo no raiar de um novo dia os cuidados que ele exige. É verdade que há dias nublados e cinzentos, mas até mesmo esses dias trazem seu charme e sua beleza, eles servem para aliviar o calor causticante do sol, para refrescar a terra e nos dar uma bela lição que, como disse o poeta cristão, “para além das nuvens o sol não deixou de brilhar”.

Mas, qual o seu jeito de olhar?

Talvez, sendo um indivíduo derrotista ou pessimista, você tenha um só jeito de olhar a vida, de forma extremamente negativa. Os dias serão maus a priori, a luta será grande antes de chegar e a ansiedade será constante.

Se, na mesma direção, seu jeito de olhar for egoísta ou individualista, então você será uma pessoa muito propensa a se ofender com facilidade, uma espécie de indivíduo com hipersensibilidade e sujeito à melancolia. Os outros, nesta visão, serão meros coadjuvantes de sua própria história.

E ainda, se o seu jeito de olhar as coisas é do tipo daquele que precisa levar vantagem em tudo, então você vai sofrer de uma espécie de “inanição” constante, sentirá o desejo desenfreado pelo ter. O que é triste, pois isso escraviza.

É preciso lembrar que o jeito de olhar a vida revela o nosso jeito de ser. Sendo assim, quero sugerir algumas maneiras que eu chamo de alvissareiras.

Precisamos olhar a vida, em primeiro lugar, com o jeito de quem sabe que foi pago um alto preço por Cristo na cruz nos livrando de todo o pecado e dando, para sempre, um jeito em nossa condição de pessoas que não tinham esperança no mundo (Ef 2.11-13).

Precisamos olhar a vida também com jeito de quem acorda todas as manhãs com a oportunidade de viver intensamente cada momento debaixo da proteção e do cuidado de Deus, sabendo que cada dia é uma oportunidade única para viver inteiramente para o agrado daquele que por nós morreu e ressuscitou (2Co 5.14,15).

Precisamos ainda, neste mundo de Deus, ter o jeito simples das crianças e desfrutar das boas coisas de um jeito que outros não sejam prejudicados com a nossa conduta, edificando valores que saltem para vida eterna (Mc 10.15).

É preciso dizer ainda que cada um tem o seu jeitão, é preciso respeitar a individualidade das pessoas. No entanto, não acreditamos que não possa existir um jeito para consertarmos as nossas fraquezas. Cremos no amor de Deus e em Sua graça que é capaz de fazer infinitamente mais do que pensamos. Ou, em outras palavras, como diz uma linda canção cristã, Deus pode dar um jeito no sujeito sem jeito (2Co 5.17).

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

Âncora da alma

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Mesmo um grande navio precisa estar bem ancorado, senão uma simples corrente marítima pode arrastá-lo para alto-mar e aí as fortes ondas serão ameaçadoras e poderão destruí-lo totalmente. Ancorado o navio, os marinheiros descansam. Até mesmo o movimento das marés não oferece risco.

De forma poética, o escritor de Hebreus nos dá conta de que assim como o navio atracado precisa estar bem ancorado, a nossa alma, que trafega pelos vagalhões do mar da existência, precisa de uma âncora segura e firme. A “âncora da alma” é a esperança (Hb 6.19).

A esperança que se tem vai para além do fim da história, “penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre” (Hb 6.20). Por mais que tenhamos prazer e deleite no tempo que se chama Hoje, a nossa esperança não pode se limitar à vida presente, é preciso ter olhos para enxergar o invisível, é preciso atentar, como diz Paulo, “nas coisas que não se veem” (2Co 4.18).

Vivemos dias em que as pessoas procuram lançar a sua segurança nas riquezas, nos bens materiais e até mesmo na normalidade da vida. É por isso que muitos, nestes tempos de crise,não encontrando firmeza em nada, acabam por se precipitar no abismo do desespero. Neste mar revolto das incertezas, nos tornamos presas fáceis de tudo e de todos e até de nossas próprias idiossincrasias. Talvez a grande lição para todos seja a que disse o salmista no passado: “Todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade” (Sl 39.5b)

Por outro lado, quando nossa alma está ancorada na esperança, o sofrimento presente não pode jamais ser comparado com a glória do porvir; enfrentamos com coragem as lutas e dificuldades de nossa caminhada e nunca seremos destruídos pelo desânimo, pela angústia ou até mesmo pelo medo. Quando a nossa alma está ancorada na esperança acreditamos que “a alegria vem com o amanhã”.

É preciso lembrar também, como diz o Salmo citado acima, que a nossa esperança tem um nome. O texto diz: “Tu és a minha esperança” (Sl 39.7). O nome da esperança do verdadeiro crente se chama Jesus. Tendo a esperança nele como âncora da alma podemos orar orações de louvor e gratidão que não sejam atreladas às circunstâncias e nem tampouco dependam do “mar” onde navegamos.

Tendo a esperança em Cristo como âncora da alma podemos nos atrever a dizer como disse o profeta: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação” (Hc 3.17,18).

Tendo a esperança em Cristo como âncora da alma podemos tranquilizá-la e dizer para ela: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.11)

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

Cobre ânimo!

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

A expressão “cobrar ânimo” traz a ideia de recuperar algo perdido. Trata-se de uma disposição resoluta e inalterável em face a situações difíceis e complicadas. Cobrar ânimo é ter coragem para vencer, para suplantar as dores, para enfrentar os problemas sem desanimar e sem entregar os pontos. Ânimo tem a ver com a alma, com o espírito ou com a mente. Em outras palavras, cobrar ânimo é ter uma atitude mental positiva diante dos embates da vida.

Cobrar ânimo deve ser um exercício constante e permanente. Digo isso porque quase tudo à nossa volta exerce uma espécie de pressão do desânimo. Vivemos hoje uma pandemia; cercados da insegurança e constantemente ameaçados pelo medo do amanhã.

O desânimo generalizado tem tomado conta das pessoas. O coronavírus chegou aqui em terras tupiniquins.Os economistas dizem que a situação tende a piorar e os especialistas na área da saúde vaticinam um caos generalizado. Há uma espécie de conspiração contra o bom ânimo e quase que temos sido obrigados a desistir e dizer como alguém disse certa vez: “Pare o mundo que eu quero descer”.

Apesar de tudo, podemos, sim, agir na contramão do medo, da desesperança e do desânimo. Para isso precisamos, sobretudo, cobrar ânimo. Veja bem, não se trata de uma atitude ingênua ou de algo que nos leve a fugir da realidade.

Precisamos estar conscientes de tudo o que nos cerca, ouvirmos a orientação de especialistas, mas precisamos também mudar o foco de nossa visão. Cobrar ânimo é muito mais do que ter uma lista de saídas paliativas de autoajuda ou coisa parecida. Cobrar ânimo tem a ver com a busca pela ajuda que vem do Alto (leia o Salmo 121). Só Jesus pode, de fato, produzir ânimo em nosso coração. Precisamos dele e de sua graça em nós. Creia em Cristo e cobre ânimo (Jo 16.33; 14.1).

Além disso, você e eu precisamos ser portadores de ânimo. Isso envolve uma disposição nossa para proferirmos somente palavras que edificam e que não destroem. Isso envolve dizer não para as Fake News, nos alimentarmos mutuamente da oração e da Palavra do Evangelho de Jesus.

Quem sabe assim o Deus que disse “Das trevas resplandeça a luz”, ele mesmo brilhe em nossos corações, para a iluminação do conhecimento na face de Cristo e nos dê ânimo redobrado (cf. 2Coríntios 4.1-6).

Que o Senhor abençoe a sua vida da cabeça aos pés.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

Prognóstico

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Em medicina um prognóstico é juízo médico. Em face do diagnóstico, que é o conhecimento ou determinação de uma doença, é feito o prognóstico; ou seja, o juízo médico sobre as possibilidades terapêuticas, a duração, a evolução e o termo da doença. Além disso, prognóstico pode significar também uma conjectura, uma predição, um agouro e até mesmo uma profecia.

Prognosticar, no sentido comum, seria avaliar com base em conhecimento adquiro. Se for predição ela jamais pode ser feita como uma espécie de sorte lançada ou palpite no meio do vazio. Até mesmo quando se usa o prognóstico no sentido de agouro existe um conhecimento prévio. Isso porque agourar é predizer com base no vôo das aves ou no canto que elas desferem. Assim, por exemplo, quando ouvimos o canto de determinado pássaro podemos pensar que o dia será chuvoso ou quando observamos o vôo das andorinhas podemos esperar que o verão se aproxima ou que ele já vai embora.

Quero fazer alguns prognósticos. Será que posso?Não os faço como agoureiro e nem como adivinho, mas como observador e à luz do ensino divino. Alguns até, quem sabe, poderiam esperar um prognóstico em relação a pandemia do coronavírus. Ou, talvez, algo que acalmasse o mercado, que discernisse os rumos políticos, que falasse do preço do barril do petróleo, da queda das bolsas de valores e da alta do dólar. Seria interessante, mas não é a minha praia. E creio que até os especialistas se encontram em grande dificuldade de prognosticar por estes caminhos.

Os prognósticos que faço têm como base de conhecimento as Escrituras Sagradas e o tempo que vivemos. E, neste caso, eu diria que eles não são, a princípio, alvissareiros. A Bíblia nos dá conta de que “haverá dias de trevas” e que, nos “últimos dias” sobreviriam “tempos difíceis” (2Tm 3)Jesus nos disse sobre um tempo de escassez de fé, esfriamento do amor e desvio doutrinário (Mt 24). Paulo nos fala sobre o “dia mal” (Ef 6.13) e o Apocalipse relata sobre uma época em que o “dragão” será solto (Ap 20.3).

O prognóstico tem a ver então com uma grande luta que se aproxima. Não falo propriamente de armas de fogo, de canhões, de mísseis teleguiados e nem de bombas destruidoras, mas falo de uma batalha no campo das idéias e dos valores morais. A evolução da “doença” chamada pecado é grande e o tratamento precisa ser radical. Precisamos do perdão de Cristo e de sua vida forjada em cada um de nós.

Há prognóstico positivo também. Antevejo (e aqui vai mais do que uma pré-visão, vai um anseio, uma esperança) dias de fortalecimento para os verdadeiros cristãos. Creio que o tempo difícil, o dia mal e os dias de trevas haverão de produzir, em muitos, uma fé incisiva, um amor autêntico e a perseverança que é a marca dos vitoriosos.

Neste caso, se prognóstico envolve o tratamento, ou, se em face do conhecimento há uma previsão, então diríamos que precisamos urgentemente, como igreja, em primeiro lugar, de uma vida intensa de oração. A oração é o “ar celestial” que os filhos de Deus precisam respirar todos os dias. O segundo aspecto desse tratamento é a pregação do evangelho, pois ele é o poder de Deus para a transformação de todo o que crê. Ele é produtor da fé que será tão escassa no tempo do fim.

Aliás, o prognóstico final é que, agora mais do que nunca, este fim se aproxima.

Tempos difíceis, dias áureos e a chegada do fim. Na verdade, eu diria que tudo isso não importa muito, o que importa é o que temos feito cada dia com o tempo que Deus tem nos permitido viver, o que temos feito da nossa vida de oração, da pregação do evangelho e com o testemunho cristão.

O verdadeiro prognóstico da vida não nos pertence, pertence a Deus e a Sua providência. Vivamos então com alegria, sem murmuração, em paz uns com outros, na expectativa da era vindoura, remindo o tempo e aguardando a manifestação do Dia de Deus. Que a fé em Jesus seja autêntica e que a esperança seja a âncora de nossa alma. Que o Deus Trino nos abençoe e tenha grande misericórdia de nossas vidas.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

“Ó mulher, grande é a tua fé!”

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Lá das bandas de Tiro e Sidom, cidades dos tempos de Jesus, veio ao encontro de Cristo uma mulher Cananeia que trazia em sua alma uma grande aflição. A dor que ela trazia era pungente, aflitiva, dolorosa e aguda. Pois é assim a dor que se sente quando ela é resultado e subproduto da dor de quem se ama. A filha de tal mulher estava terrivelmente endemoninhada. Isso a fazia menina excluída, marginalizada e estigmatizada.

Ah! Que dor aguda! Talvez tal mulher tenha pedido em suas preces mais profundas e desejado no mais íntimo de seu ser que tamanho tormento fosse dela e não da filha. Pois assim são os pais que verdadeiramente amam seus filhos queridos. Preferem sofrer até mesmo os tormentos do inferno a vê-los jogados pelas janelas, atirados ao chão, feridos pelo inimigo e entregues à morte. Sim, dor atroz, que penetra no peito como flecha pontiaguda, que faz cair doente o coração e que rouba a alegria e a esperança. Não há dor maior do que ver um filho atormentado, escravizado e infeliz.

Mas a mulher de nossa história vislumbra e enxerga a esperança. Sabe que anda por ali, nas estradas poeirentas da Galileia, alguém que poderia de fato trazer paz ao seu coração e cura para sua filha. Ela vai ao encontro de Jesus e o Mestre parece indiferente. Ele não lhe dá atenção, Ele não lhe responde palavra, Ele parece desprezá-la. Os discípulos de Cristo o cercam, tentam protegê-lo de tal importunação e o quadro se agrava. Mas a mulher insiste, não desiste, persiste. Ela deseja uma migalha da graça de Deus como um cachorrinho que, debaixo da mesa de seu dono, aguarda o farelo do pão (Mateus 15.21-28).

“Ó mulher, grande é a tua fé!” Assim disse Jesus. Ele a despede e com gesto terno declara em alto e bom som a cura da filha atormentada; liberta agora das garras de quem era mais forte do que ela, mas submisso às ordens daquele que é Senhor sobre todas as coisas. À ordem de Jesus o inferno se cala e se rende e não é capaz de deter aqueles que atrás de suas portas se encerram.

Precisamos de mulheres como a mulher Cananeia da história contada: que coloquem a sua fé no Filho de Deus, em Jesus de Nazaré. Não a fé mágica e mística dos encantadores e feiticeiros, dos necromantes e agoureiros, dos ritualistas e vazios da moral, mas a fé singela e autêntica que busca em Deus até mesmo uma migalha de sua graça. Pois um “farelo” que seja do “pão que desce do céu” (Jo 6.50) é infinitamente mais do que tudo o que há na “mesa” de nossa própria subsistência, seja ela a “mesa” de ideologias modernas ou de conceitos filosóficos.

Ah! Como é preciso ouvir esta espécie de admiração daquele que conhece todas as coisas e sentir, quem sabe, que até mesmo Ele precisa se surpreender ao olhar para nós e então dizer: “grande é a tua fé!”

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

A flecha da verdade e o pote de mel

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Conta-se que, certa vez, um rei, sentindo a ameaça iminente de uma guerra civil e prevendo uma catástrofe em seu reino, convocou dois profetas a fim de que declarassem com exatidão qual seria a sua sorte futura. O primeiro se aproximou e lhe deu a notícia de que ele, o rei, viveria para ver a morte de toda sua família.Revoltado com a notícia, o soberano mandou castigar o tal profeta. O segundo vidente, diante da mesma pergunta, disse ao rei que ele teria vida longa e que viveria para ver a geração dos seus filhos e netos.

O rei se alegrou com a notícia e mandou recompensar o segundo profeta. Ao sair da presença do rei, alguém que havia presenciado a cena e o vaticínio dos dois profetas, perguntou ao segundo porque a sorte dele tinha sido diferente sendo que ele dissera a mesma coisa que fora dita pelo primeiro profeta. A resposta foi a seguinte: “Antes de disparar a flecha da verdade, mergulhei a sua ponta num pote de mel”.

Talvez seja mais ou menos isso que o apóstolo Paulo quis dizer quando ele recomendou aos crentes de Éfeso que eles falassem uns aos outros a “verdade em amor” (Ef 4.15). A verdade precisa ser dita, mas ela não precisa ser rude. Há pessoas que se gabam pela sua franqueza, mas que são, muitas vezes, francamente mal-educadas. A verdade é importante, mas, como disse Paulo, ela é uma virtude que não pode vir desacompanhada. No caso, ela precisa andar de mãos dadas com o amor.

A verdade sem amor, escraviza. A verdade sem amor é legalista e tirana; massacra, fere e tira o ânimo. Por outro lado, é importante dizer também, que o amor sem a verdade é lânguido, fraco, manipulável, interesseiro e de forma alguma sobrevive ao mais caudaloso rio. A verdade sem o amor pode matar, mas o amor sem a verdade cura a ferida superficialmente e uma ferida aberta, purulenta, mata aos poucos também. A verdade sem o amor tira a esperança, mas o amor sem a verdade conduz ao erro. A verdade sem amor provoca reações de ódio, mas o amor sem a verdade planta no coração a semente do engano que irá produzir no futuro a colheita da mágoa e da tristeza.

Como conciliar a verdade e o amor? Ou, como falar a verdade em amor?

A resposta é: Você deve sempre mergulhar a flecha da verdade no pote de mel. Isso significa que antes de disparar a “flecha”, você deve trabalhar o seu sentimento. E o sentimento correto seria, antes de tudo, a compaixão. É preciso se colocar no lugar do outro. Além disso,é preciso que se tenha também um olhar cândido e meigo. Não diga a verdade olhando para cima, para o lado ou para baixo. Olhe nos olhos. Somente então, a partir daí, diga o que precisa ser dito. Mas até mesmo antes de dizer, peça a Deus sabedoria e que Ele mesmo lhe dê a boa palavra que transmita graça e seja temperada com sal.Procure, então, o momento certo, as palavras que se encaixam e, com boa educação, diga o que precisa ser dito.

Pode ser que, mesmo depois de mergulhar a “flecha da verdade no pote de mel”, ela ainda assim não seja bem recebida. Pode ser que ela até machuque, mas, com certeza, ela jamais será uma espécie de ferida mortal que não tem cura. Pelo contrário, a verdade dita em amor será restauradora e, quem sabe, mesmo que de início seja a contragosto, ela terá o reconhecimento futuro de que foi o melhor caminho e a melhor maneira.

Sendo assim, meu querido amigo, antes de “disparar a flecha da verdade”, mergulhe-a no “pote de mel”.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

As chaves da cidade

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Há alguns anos, o prefeito da cidade de Guanambi, na Bahia, precisou se explicar diante da justiça e da opinião pública, sobre o seu primeiro decreto como gestor, entregando as chaves do município ao Senhor Jesus. Dentre outras coisas, o prefeito também declarou cancelados todos os pactos feitos a qualquer outro deus ou entidades espirituais. O questionamento ao decreto surgiu em virtude do fato de que o Estado é laico e de que ninguém tem autonomia para alterar esse princípio constitucional.

Ao ler a reportagem, eu até entendi a intenção do prefeito, embora não concorde com a sua atitude.Talvez, por trás de seu decreto, haja o desejo de que Deus abençoe a cidade, guarde os seus munícipes e dê sabedoria na condução da máquina pública. O que eu não discordo de forma alguma. No entanto, a laicidade do Estado precisa ser defendida como algo válido, verdadeiro e regulador da boa convivência em um país que tem uma diversidade religiosa enorme.

Além disso, Jesus não precisa de um decreto para confirmar o seu governo. Todo gestor cristão afirma a sua crença na soberania de Cristo sobre a cidade, não com documentos lavrados no papel ou palavras jogadas ao ar, mas com gestos, palavras e atitudes suas que confirmam a sua obediência ao Senhor. O próprio Jesus disse: “Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno” (Jo 15.14). E isso envolve, com certeza, a prática do respeito, o amor pela verdade e a transparência na lide com o caixa da prefeitura.

Por outro lado, também não sou muito favorável quando as chaves da cidade são entregues, ainda que simbolicamente, ao Rei Momo, nos dias do carnaval. Veja bem, a preocupação não é tanto com o conteúdo místico, mágico ou espiritual desse gesto. Confesso que sou cético sobre esse assunto. A preocupação reside no fato de que a cidade acaba recebendo nesses quatro dias (ou mais), por assim dizer, as chaves da licenciosidade, do desrespeito, da desordem, da inconsequência e da irresponsabilidade.

O argumento é de que o “povo sofrido, precisa de diversão”. Concordo com o fato de que o brasileiro anda vivendo debaixo de uma pesada carga de desesperança, tristeza e ansiedade. Também defendo o direito à diversão e ao lazer. O que eu não concordo é com o conceito de alegria proposto nessa folia. Não entra na minha cabeça uma festa que tenha como saldo o aumento da criminalidade, o alto índice de acidentes por embriaguez, uma enorme despesa do ministério da saúde no tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, possa ser a festa da alegria. Mesmo porque tudo acaba em cinzas.

Com todo o respeito para com quem pensa de forma diferente, não concordo que as chaves da cidade sejam dadas ao Rei Momo. Talvez, para muitos, seja conveniente que isso aconteça. Afinal, quem pula e bebe corre o risco de se distrair demais e o distraído, muitas vezes, torna-se alienado. O Rei Momo muda o foco da atenção. Os corruptos agradecem por sua “intervenção”. Para muitos é bom que ele surja no meio da crise, que ele transforme tudo em anarquia, em desordem e em orgia. O pior é se essa folia extravasar, não ter hora para acabar e nem dia para terminar.

As chaves da cidade, precisam, na verdade, estar nas mãos das pessoas de bem. Daqueles que até se divertem, mas o fazem com responsabilidade. Daqueles que amam a justiça, a retidão e a honestidade. As chaves da cidade precisam abrir as portas para uma educação de qualidade, para o respeito mútuo e para o trabalho digno. As chaves da cidade precisam trancar a fechadura do ódio, do rancor e da retaliação. As chaves da cidade devem estar sob o poder, não dos inconsequentes, não dos transeuntes despidos da boa moral, mas de gente que quer construir com dignidade uma Nação. Ao agir assim, com certeza, as chaves estarão nas mãos do Senhor Jesus e Ele nem precisará de algum decreto assinado ou de um documento publicado.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)

Alegria responsável

Por Reverendo Célio Teixeira Júnior*

Uma das grandes dificuldades que se tem na vida é a de associar alegria à responsabilidade. Às vezes tem-se a impressão de que ser alegre é não ter que dar satisfações, é fazer o que der na cabeça e agir como se não houvesse o amanhã. O problema é que o amanhã existe e ele é implacável. Por isso é de bom alvitre ser alegre, mas também responsável. Esta responsabilidade pode ser medida em três direções.

Em primeiro lugar, precisamos ser responsáveis porque a saúde cobra uma conta alta da irresponsabilidade. Em segundo lugar, precisamos ser responsáveis, pois ao nosso lado sempre há alguém que tem os seus direitos que devem ser respeitados. E, por último, precisamos ser responsáveis, pois sabemos que existe um Deus, Criador, Senhor de todas as coisas, que tem o direito absoluto sobre nós. Ele mesmo nos diz, através de Sua palavra, que de todas as coisas que fizermos, um dia lhe prestaremos contas.

O texto sagrado nos diz: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas” (Ec 11.9). Embora a palavra seja específica para os moços e moças, ela carrega em si um princípio que vale para todos nós.

Talvez alguém diga num brado de pretensa alegria: “Eu não estou nem aí!”. Quem sabe, dando de ombros, também possa ser dito: “Eu quero mais é ser feliz!” Sim, isso é bom e importante, mas a alegria não pode ser fugaz, passageira e inconsequente. Eu não posso pagar qualquer preço por ela, pois o preço da verdadeira alegria é a responsabilidade. Conquanto o Deus do céu não seja um frustrador de sonhos e nem um castrador da felicidade, Ele é claramente contra a irresponsabilidade. Aliás, Ele mesmo estabeleceu leis que não podem ser contrariadas e todos nós sabemos disso.

Uma destas leis está escrita na carta de Paulo aos Gálatas: “O que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.6). Esta lei da natureza é também uma lei moral. A semente de trigo produz trigo e não feijão. Quem semeia maldade colhe maldade, quem semeia alegria irresponsável também colherá o resultado negativo desta semeadura. E quem, por outro lado, semeia o bem trará grandes feixes de bons resultados no tempo da sega ou da colheita. Além disso, uma semeadura errada e irresponsável pode produzir desgosto maior ainda do que o esperado. A Bíblia fala, por exemplo, daqueles que semearam ventos e segaram tormentas, ou, numa outra versão, semearam ventos e colheram tempestades (Os 8.7).

Com tudo isso eu quero lançar aqui um alerta. Estamos próximos do carnaval e um espírito de “liberou geral” parece tomar conta das pessoas nesses dias. O governo se preocupa e faz propagandas na televisão: “Se beber, não dirija”; “Seja prevenido, use camisinha”. E assim por diante. Às vezes penso no fato de que toda inibição externa é infrutífera se não tivermos, dentro de nós, uma convicção de valores e do que seja certo ou errado. Além disso, precisamos refletir nos resultados. Melhor seria se cada ação, cada gesto e cada palavra nossa fossem acompanhados por boa dose de responsabilidade.

E o mais importante ainda, é preciso saber que alegria real é mais do que um estado de espírito ou um momento de folia. Alegria verdadeira tem a ver com uma pessoa: Jesus. Como disse o compositor: “Jesus, alegria dos homens”. A alegria que independe do chão que se pisa ou da circunstância que se vive é conhecer a Cristo como Salvador e Senhor: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp 4.4). Esta alegria, diz a Bíblia, é a força de todo aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos: “Alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.10).

À luz de tudo isso, o conselho é simples: Seja alegre, curta a vida, mas seja responsável.

  • Célio Teixeira Júnior é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Lavras (MG)